segunda-feira, 16 de julho de 2007

O TEMPO E A CIDADE

Junho de 2002 (É o resultado do Milton Santos em minha cabeça - um artigo que o mestre fez sobre o tempo. Originalmente, o que aqui se apresenta como primeiro parágrafo foi usado como fechamento do texto. Hoje, ainda não sei por qual causa, talvez por motivos estéticos, resolvi colocá-lo no início).


Seriam, tais palavras uma conclusão sobre tão tempestuoso tema, ou seriam apenas reflexões de um homem que, através da sua subjetividade, transcorreu sobre o tempo no seu tempo, através daquilo que herdara pelo tempo de outros tempos?

A cidade é o palco onde se apresentam os diversos personagens da vida urbana. Pessoas de todas as regiões, de todos os tipos, de todas as "tribos", de todos os gostos, de todos os credos... A cidade acolhe e expulsa as diferenças, de braços abertos cobertos de preconceito. A cidade une o impensável e segrega os homens dentro do mesmo espaço. Neste cenário tragicômico, os homens vivem o tempo que a cidade lhes permite, que a sociedade lhes permite, mas ainda vivem um tempo que só sua formação (cultural, social e histórica) permite viver, inundado de subjetividade e de lógica fora da lógica do capital.
Esta cidade urbana, concreta e que, a primeiro momento, mostra-se carrancuda e sem atração aos olhos humanos, é controlada por um tempo que já é mercadoria. O espaço se transforma em favor dos interesses da produção e as relações entre os homens parecem se perder no mar da individualidade exacerbada, legítima segundo o contexto histórico (ou seria tempo histórico?).
Mas este tempo convive com o passado, mesmo porque reconfigura o meio, mas não se livra dos fantasmas, herança de gerações passadas. E nesse convívio renasce o tempo que é único do homem, algo que antecede a mercadoria. Redescobre-se aqui a subjetividade do "sem pressa", o inconsciente. O tempo que não é mais sincrônico, ao contrário, varia de pessoa a pessoa, contribuindo assim para a humanização daquele que outrora fora dito como um móvel sisudo, impessoal, sem alma...
Forma-se, então, a cidade como o espaço da interação dos tempos. Do tempo atualmente transformado em mercadoria e que é rápido – por ser caro –, transformador do espaço, mas que só o faz respeitando o passado – portanto, o tempo histórico – e se utilizando dele para entender e reconfigurar o meio. E entre esta comunicação incessante, está toda a subjetividade dos atores desta obra que se renova a cada dia, a cada minuto, enfim, a todo tempo. A cidade é o espaço de ação, transformação e percepção do(s) tempo(s), que só é – ou são – possível(is) porque o(s) preenchemos, reconhecemos e nos utilizamos dele(s).

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