(Texto escrito em novembro de 2003)
Nas grandes cidades, de um país tão violento,
Os muros e as grades nos protegem de quase tudo.
Mais o quase tudo, quase sempre é quase nada,
E nada nos protege de uma vida sem sentido.
(Engenheiros de Hawaii)
Grades, lanças, muros altíssimos, cerca eletrificada, vidros escurecidos, complexos sistemas de alarme do tipo high-tech, circuitos internos de vídeo, homens uniformizados, armas, trincheiras, medo. Nas cidades, principalmente as de grande e médio porte, a classe média e alta escondem-se atrás da segurança equivocada dos muros de suas fortalezas, que tampa seus olhos e os impede de enxergar a realidade violenta que castiga o mendigo que deita sob viadutos, a prostituta que vende seu corpo durante as madrugadas incertas, o estudante que volta receosamente para casa e o executivo camuflado através do insulfim do carro blindado.
O mesmo capital que desenvolve a tecnologia, aumenta a expectativa de vida dos homens e cria possibilidades de comunicação imediata entre pontos fisicamente distantes do planeta, causando fascínio aos olhos da população, também cria as contradições entre os homens, e estas, por sua vez, fazem-se concretas dentro da cidade, pois é nela que se dão as relações de troca que geram os diversos conflitos entre grupos diferentes, divididos por conta das posições ideológicas, sociais ou econômicas que cada um possui. Este mesmo capital cria a exclusão, deixando de fora de seu "magnífico estilo de vida" a maior parte da população, o que, muitas vezes, promove a violência – reação à falta de acesso às idolatrias capitalistas – e o individualismo. É dele, também, a responsabilidade pela apropriação de todo o espaço, não mais visto como algo pertencente à coletividade. Como tudo é privado, para usufruir do espaço é necessário que se tenha condições – financeiras, diga-se de passagem – para nele entranhar-se, o que não é de alcance da maioria.
Por isso a cidade hoje se fecha num mar de concreto insensível, donde foram expulsas as relações de trocas subjetivas entre os diversos indivíduos e, em seu lugar, ficou a interminável tensão entre os que tentam se proteger daquilo que, inconscientemente, incentivam. O espaço vive então uma releitura das fortalezas medievais com muros altos de lanças pontiagudas e acrescidos de fios eletrificados. Os fossos ainda existem mas não têm jacarés à espera do invasor, seus similares moram nos quintais e atendem por pitbull e rotweiller. Se uns são excluídos do processo de acumulação e uso dos benefícios que a tecnologia patrocinada pelo capitalismo proporciona, outros se privam da liberdade gritada aos quatro ventos na época do iluminismo, trancando-se em seus cárceres que são, obviamente, privados.
Nas grandes cidades, de um país tão violento,
Os muros e as grades nos protegem de quase tudo.
Mais o quase tudo, quase sempre é quase nada,
E nada nos protege de uma vida sem sentido.
(Engenheiros de Hawaii)
Grades, lanças, muros altíssimos, cerca eletrificada, vidros escurecidos, complexos sistemas de alarme do tipo high-tech, circuitos internos de vídeo, homens uniformizados, armas, trincheiras, medo. Nas cidades, principalmente as de grande e médio porte, a classe média e alta escondem-se atrás da segurança equivocada dos muros de suas fortalezas, que tampa seus olhos e os impede de enxergar a realidade violenta que castiga o mendigo que deita sob viadutos, a prostituta que vende seu corpo durante as madrugadas incertas, o estudante que volta receosamente para casa e o executivo camuflado através do insulfim do carro blindado.
O mesmo capital que desenvolve a tecnologia, aumenta a expectativa de vida dos homens e cria possibilidades de comunicação imediata entre pontos fisicamente distantes do planeta, causando fascínio aos olhos da população, também cria as contradições entre os homens, e estas, por sua vez, fazem-se concretas dentro da cidade, pois é nela que se dão as relações de troca que geram os diversos conflitos entre grupos diferentes, divididos por conta das posições ideológicas, sociais ou econômicas que cada um possui. Este mesmo capital cria a exclusão, deixando de fora de seu "magnífico estilo de vida" a maior parte da população, o que, muitas vezes, promove a violência – reação à falta de acesso às idolatrias capitalistas – e o individualismo. É dele, também, a responsabilidade pela apropriação de todo o espaço, não mais visto como algo pertencente à coletividade. Como tudo é privado, para usufruir do espaço é necessário que se tenha condições – financeiras, diga-se de passagem – para nele entranhar-se, o que não é de alcance da maioria.
Por isso a cidade hoje se fecha num mar de concreto insensível, donde foram expulsas as relações de trocas subjetivas entre os diversos indivíduos e, em seu lugar, ficou a interminável tensão entre os que tentam se proteger daquilo que, inconscientemente, incentivam. O espaço vive então uma releitura das fortalezas medievais com muros altos de lanças pontiagudas e acrescidos de fios eletrificados. Os fossos ainda existem mas não têm jacarés à espera do invasor, seus similares moram nos quintais e atendem por pitbull e rotweiller. Se uns são excluídos do processo de acumulação e uso dos benefícios que a tecnologia patrocinada pelo capitalismo proporciona, outros se privam da liberdade gritada aos quatro ventos na época do iluminismo, trancando-se em seus cárceres que são, obviamente, privados.
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