Digressões de um dia difícil. Feito em 21 de setembro de 2005.
Cuidado cachorro!
Neste momento, eu queria ser o que todos torcem ou acham. Queria ser puto ou alcoviteiro. Queria ser o dado, o sem-limites, o topa-tudo, o niilista. Queria não
ser o fiel amigo, o fiel companheiro. Mas nós, cães (talvez os poucos que sobraram), aprendemos sempre a rolar e dar a pata, e estamos no eterno aprendizado
de nos fingir de morto.
Mijo de poste em poste demarcando meu território sem perceber que é o meu dono que
define o meu caminho.
Engulo minha vida que é cheia de louros – como os louros colhidos pelos heróis. Mas os meus são diferentes (como sempre!). Minha loira em minha frente, engulo-a sempre
com prazer, mesmo sendo amarga, mesmo sendo fria, mesmo esfolando a minha garganta nesta quase última noite de inverno (que apesar do avançado da hora, do
determinismo temporal, promete ainda assim ser longa). Minha loira, a que desce agora, é quente e arrepiante, diria quase repugnante pelo gosto forte e pouco
apreciativo. Desce com o meu gosto, desce por que quero, desce para dentro de mim (agora quente).
O adestramento não pára no aprendizado precedente. A questionável sabedoria diz que cães que ladrem não mordem. Inútil e inocente sabedoria. Mal sabe que há muito não
lato e, sequer, mordo. Agora sei que, dia-a-dia, aprendo até a mostrar os dentes sem rosnar.
Um dia, uma noite e mais uma que engulo a seco nos bares. Quem dera poder! Quem dera conseguir! Mas só querem que eu seja o que eles pensam que eu sou (ou o que eu
possa ser). Recolho-me à minha hipocrisia e volto ébrio para acordar como se nada tivesse acontecido. De poste em poste, demarcando território. (Que território?) Volto
amanhã a tudo o que querem. Volto amanhã com minha neurose e minha dor de cabeça. Volto amanhã porque ainda há o medo da morte.
2 comentários:
Não sabia que tinha um blog rapaz! Por que não veio conosco em nosso coletivo?
Enfim, texto legal. Não entendi porque colocou o enigma a lá “turma da Mônica”, mas...
Tem um quê de Roberto Piva, não tem?
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